Crônicas

Excesso de diligência

Eu tentei. De verdade, tentei mesmo. Mesmo não sendo de grande ajuda, fiz tudo que pude. Há quatro anos, começava a minha preparação para esta Copa do Mundo. Por isso, dei tempo à Seleção. Não critiquei (muito) alguns dos jogadores selecionados, tive paciência com as quedas (inclusive com as de rendimento), e mantive o otimismo, apesar dos consecutivos lances e atuações abaixo do esperado.

Nos cinco jogos, procurei sintonizar a televisão na transmissão pelo menos meia hora antes do início para poder acompanhar tudo. Não queria perder nada. Quando o Brasil ia jogar, organizava o meu dia em função do horário da partida. Na torcida, me respaldei de expectativas e superstições. Fiz promessas, estabeleci sistemáticas e reinventei estratégias que pudessem influenciar positivamente a ventura da Seleção na Rússia. Não é algo superficial ou frívolo, praticamente todo torcedor tem alguma crença.

E eu acreditei. Uma semana antes do início do torneio, tinha decidido assistir todas as partidas do Brasil com meu agasalho verde pseudo-brazuca. Sabe aquela história de vestimenta da sorte? Bom, caiu logo no primeiro jogo. Com o resultado não sendo o esperado, mudei de ideia: o moletom não tinha dado sorte para a Seleção. Procurei compensar de outras maneiras. Mantive um padrão de assistir a cada certame em um lugar diferente. Ainda que tenha parecido surtir algum efeito nos desafios seguintes, mostrou-se ineficaz na última sexta, na derrota para a Bélgica.

Pela primeira vez na competição, tinha combinado de fazer um churrasco para assistir o confronto pelas quartas de final. Na hora do jogo, pausa para ver a equipe de Tite em cena. A sala estava lotada, com as pessoas dispostas em formação de “U” em frente à TV para ninguém atrapalhar a visão do outro. Mal sabíamos que, logo no começo, o silêncio tomaria conta do ambiente com uma trapalhada dos nossos próprios jogadores. O Brasil nunca fica tão silencioso como quando a Seleção sofre gol. Ainda mais quando em Copa do Mundo, e no mata-mata, aliás.

Mesmo com o segundo gol e o iminente desespero taciturno dos torcedores brasileiros, salvaguardei a minha esperança. Em momento algum, deixei de ter fé na vitória. Podia ser no tempo normal, acréscimo ou com todo o drama das penalidades, não importava. O Brasil ia ganhar. Afinal, não tinha como perder. Tinha? Parecia não ser possível. O gol de Renato Augusto era o prenúncio da virada… que não se concretizou. No decurso da partida, as superstições se manifestavam. “Sempre que eu não assisto um jogo com meu pai, minha equipe perde”, lamentou um amigo. Minha namorada insistia para que eu voltasse para o lugar em que estava quando saiu o gol do Brasil. Quem sabe dava sorte e rendia mais um tento, não é mesmo? É, nada funcionou.

Eu realmente me empenhei. Como torcedor, tentei dar todo o suporte que me cabia. Não contestei escalações, pelo menos não até o momento em que percebi o quão complicada estava a situação. Acreditei no elenco, deixando que eles se provassem antes de começar a cornetar. E não fui apenas eu quem adotou essa postura. Mas não sei até que ponto isso foi, no ponto de vista do próprio futebol apresentado pela Seleção, algo favorável. Acho que, na verdade, foi mais um problema.

André Martins Gonçalves

Pesquisador PROCAD USP-UFMS-UFRN em Iniciação Científica

Título: Crônicas Esportivas - A Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia 2018