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Memória e História: O Centro Esportivo Tietê em primeira pessoa

https://www.instagram.com/visitatiete/https://www.instagram.com/visitatiete/O presente trabalho busca apresentar a história do Centro Esportivo Tietê, antigo Clube de Regatas Tietê, na perspectiva do antigo sócio e atual frequentador Fernando de Almeida Domingues, de 91 anos

Durante cento e cinco anos, o lugar abrigou o Clube de Regatas Tietê, uma das referências náuticas da cidade de São Paulo, reunindo parte da elite paulistana.  

Apesar do seu restrito público, o Clube foi responsável pela criação de eventos de larga escala e relevância, como a travessia a nado do Tietê.

Infelizmente, hoje o rio nada tem a ver com aquele que gerou tantas alegrias aos esportistas paulistanos. Ladeado pela “famosa” Marginal do Tietê, ele tornou-se um esgoto a céu aberto onde poucos dos antigos clubes sobrevivem. Atualmente, a competição ainda existe, tendo como sede as raias desta Universidade.

Durante sua vigência, o Clube também foi responsável pelo lançamento de duas atletas de destaque em suas respectivas modalidades no Brasil: Maria Lenk, nadadora, e a premiada tenista Maria Esther Bueno. A associação ainda teve discreta relevância no cenário futebolístico paulista, sendo seu principal foco a área aquática.

A história do local é marcada por áureos tempos, centrados na década de 1970, os quais foram vividos pelo então sócio, Fernando. No entanto, o Clube contraiu dívidas trabalhistas e tributárias milionárias, as quais tentaram ser renegociadas diversas vezes, sem sucesso. Em 2009, o iminente desfecho se consolidou: o tradicional Clube cessou suas atividades.

A história não acaba aí.

Em abril de 2013, o prefeito Fernando Haddad publicou um decreto criando o Centro Esportivo Tietê, que passa a integrar o Programa Clube Escola. No local do antigo clube está prevista a construção do Memorial do Clube de Regatas Tietê, com o objetivo de preservar troféus, medalhas e parte da história desse centenário clube paulistano.

O Centro honra a diversidade de esportes oferecidos pelo Clube, tendo sido responsável pela estreia da pista de atletismo no local, aberta a todo o público, como o restante do parque.

Há, contudo, quem critique a gestão municipal de local, ressaltando o abandono do espaço e o sucateamento em prol da redução dos custos com o local.

O alto rendimento e a alta classe pararam de ser predominantes, dando lugar a uma preservação a céu aberto de vegetação local e da história do desporto nacional.

O auge, o declínio e a remodelação do lugar fizeram com que o público, de modo geral, fosse substancialmente alterado. Das portas fechadas da elite de São Paulo às caminhadas de passantes da região, o espaço nunca deixou de fazer ode ao esporte, como demonstra seu glorioso passado e suas atuais lembranças, vividas e narradas por Fernando.

ENTREVISTA

ENTREVISTADOR: O que o Clube de Regatas Tietê representa para você?

ENTREVISTADO: “Um local onde pude aproveitar meu tempo livre junto aos meus filhos”. O Sr. Fernando comentou sobre os momento em que ia ao clube, toda segunda, quarta e domingo, levando seus primeiros três filhos para treinar ginástica olímpica. Enquanto eles treinavam, ele ia até as quadras fechadas de basquete, onde o mesmo velho grupo estava já reunido para suas partidas amistosas.

ENTREVISTADOR: O que você costumava fazer no clube?

ENTREVISTADO: Um pouco emocionado, fez uma pausa e explicou: “Nunca fui um homem muito sociável, sempre tive poucos amigos, mas posso dizer que esse pequeno grupo guardava alguns destes poucos amigos dos quais tive o prazer de passar meus dias.” Dizia ele, claramente mais contente por lembrar de momentos alegres de sua juventude, se assim pudermos dizer de um homem por volta de seus quarenta anos, que os treinamentos de segunda e quarta eram curtos, no final da tarde até o início da noite, onde posteriormente seus filhos iam até a quadra para chamá-lo.

Perdia a noção do tempo. Despedindo-se de seus amigos ele então ia para casa.

Aos domingos era diferente, os filhos iam no período da manhã até o clube para treinar, por prazer, pois este não era um treino oficial, e seguia o seu roteiro mais uma vez. Dessa vez, entretanto, após o treino, todos se reuniam em uma das piscinas abertas passando   pelo vestiário que era gerenciado pelo senhor Olívio, atualmente um senhor de 82 anos, nadando durante até a fome bater. Preparavam um piquenique junto ao seu treinador, Paulo, como lembrou Cláudio, um de seus filhos.

Já no final da tarde eles se reuniam para ir no cinema do clube, onde viam os filmes que estavam em cartas para depois voltarem para casa.

Alguns anos depois, quando seu quarto e último filho já era mais velho, o Sr. Fernando começou a ir com toda sua família ao clube. O filho mais novo, por ter uma estatura muito grande, chegando a medir mais de dois metros, fazia jus ao amor do pai pelo basquete. “Depois de quatro tentativas, eu finalmente consegui um companheiro para jogar!”, disse o senhor empolgado, dando leves risadas.

A dupla que então se formara continuou a jogar até o final dos anos noventa, quando Fernando já tinha mais de setenta anos, e os problemas do clube, já em crise, impediam que ele continuasse a jogar. Comentou: “O joelho já não era o mesmo e o clube começou a ficar sucateado, além do forte cheiro do rio Tietê, que era muito desagradável. ‘Me fizeram’ parar de frequentar o local”. Os dois foram os últimos da família a deixarem o clube.

ENTREVISTADOR: O que você acha sobre o que o clube se tornou hoje?

ENTREVISTADO: O Sr. Fernando respondeu que ficava triste que o tão querido clube tinha fechado, mas, ao mesmo tempo, contente pelo fato de a prefeitura ter mantido o local.

Não poupou críticas à atual gestão, entretanto, principalmente por ter concretado as piscinas, local de tantas lembranças. Diz ele que esta deveria preservar tal parte da história da cidade, mesmo que implicasse um gasto a mais para o governo, visto que o local sempre teve muito potencial de ser um dos maiores pontos de convivência de São Paulo, caso os administradores se empenhassem para tal.

A VISITA

Após conhecer um pouco mais sobre a história do Clube de Regatas Tietê, fomos visitar o local, e lá conversamos com dois frequentadores. Regiane e Geraldo são funcionários da Guarda Civil Metropolitana, que fica ao lado do clube, e utilizam o espaço há cerca de 6 meses. Eles comentaram que costumam utilizar a pista de caminhada e a quadra de futsal, e apontaram vários pontos positivos do local, como a segurança, limpeza, infraestrutura, e a boa administração. Falamos também com o diretor, que se mostrou muito simpático e solícito no momento da nossa visita.  

Depois de aprofundar o conhecimento sobre o Clube de Regatas Tietê, ter contato com o local, conversar com frequentadores, administradores e pessoas que tiveram o clube como parte de sua história, podemos dizer que ele é um local muito interessante para práticas esportivas, de lazer e recreação, perto do centro de São Paulo e próximo a grandes e importantes avenidas. É uma joia perdida e não valorizada em meio ao “mar de concreto”.

Link das fotos: https://www.instagram.com/visitatiete/

Almir Ribeiro Couto – Nº USP 10379381

Breno Teruo Okamoto – Nº USP 9835964

Caio Servidio  – Nº USP 9832193

Gustavo Briccoli de Almeida Domingues  – Nº USP 9900379

Roberta Silva de Loureiro – Nº USP 10339195

Victor Madureira Ferrari – Nº USP 10333060