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O futebol além da transmissão: Entrevista com Cesar Paiva

Lucas Goulart Alves

(13/10/2018)

O esporte amador pode ser considerado um dos traços marcantes da população brasileira, onde é praticado de domingo a domingo e em diversas modalidades. Todos os dias recebemos uma enxurrada de informações sobre as competições esportivas profissionais e de alto nível, nos impressionando cada vez mais com todo o glamour que as envolvem. No entanto, é no dia a dia, nos parques, espaços públicos ou até mesmo em locais improvisados que a maior parte da população pode, de fato, estreitar seu contato com o mundo esportivo.

Sabe-se que, dentro desse universo, o futebol é a paixão de grande parte dos brasileiros e visto em primeiro lugar quando o assunto é esporte. Desde os campeonatos profissionais até um jogo simples com bola de meia dentro de casa, esse jogo nunca deixou de ser admirado por tanta gente.

Hoje falaremos com Cesar Paiva, 25, engenheiro formado pelo Centro Universitário FEI e jogador amador de futebol, desde os campeonatos de várzea até os universitários. Atualmente, Cesar joga pelo Real Madruga Futebol e Cerveja Clube, equipe fundada em 10/01/2012 com dois simples objetivos: disputar campeonatos de futebol e estar na presença de amigos todos os finais de semana. No momento, disputam a Copa Playball, na unidade da Pompéia, onde foi realizada essa conversa.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Conte um pouco para a gente sobre a sua trajetória dentro do futebol. Como a maioria dos meninos, você sonhava em ser jogador profissional?

Com certeza! Eu trabalhei muito para que isso se concretizasse, mas você sabe como é… o caminho é duro e nem sempre a qualidade vai ser o suficiente. Além da dedicação e talento, infelizmente há muitas outras coisas envolvidas, como dinheiro e contatos, ou até mesmo sorte. Eu jogo bola desde criancinha, quando brincava com o meu pai e os meus primos nas ruas do meu bairro. Aos 6 anos de idade eu comecei a treinar no Pequeninos do Jockey, alimentado por esse sonho de me tornar um grande jogador de futebol. Aprendi muitas coisas lá e devo muito ao fundador, o Sr. José Guimarães. Nunca esquecerei do carinho dele com os alunos, e em como ele acreditava na formação de cada um, que ia além da condição esportiva, era uma visão muito humana. Tive ainda a oportunidade de disputar a Gothia Cup na minha adolescência, um torneio internacional na Europa, o que talvez tenha sido o momento mais marcante das minhas memórias futebolísticas. Além disso, tive o privilégio de estudar no Colégio São Luís, e lá aprendi a ser uma pessoa extremamente competitiva. Talvez tenha sido o maior motivo de eu não ter insistido mais um pouco no sonho de me tornar profissional, a oportunidade de um estudo de qualidade e o fato de eu ter feito muitos amigos, que estiveram presentes em muitos momentos felizes dentro e fora das quadras. No Ensino Médio eu comecei também a disputar os campeonatos de várzea por um time do meu bairro, no Capão Redondo. A Copa Kaiser foi uma experiência marcante, disputei a primeira em 2012 e até dói no coração ver tanta gente lá que é melhor do que muito jogador profissional… Esse meu time era formado por amigos, conhecidos e familiares, e foi muito importante para eu enxergar que o futebol vai muito além daquela coisa profissional, foi aí que eu passei a ter uma motivação a mais em continuar disputando o esporte de forma amadora e não ficar frustrado com o caminho profissional que segui na minha vida. Por sinal, na faculdade eu participei todos os anos dos times de futebol de campo e futsal! Deu para ter uma ideia do quanto eu gosto de jogar bola, né? (risos)

Por quais outros motivos você disputa os campeonatos amadores? O que te leva a jogar futebol nos fins de semana?

Bom, além do que eu já disse sobre ser uma pessoa extremamente competitiva, eu sempre gostei da atmosfera que o futebol causa. Desde as vésperas de um jogo, passando pela preparação, a conversa pré-jogo, a reza, o aquecimento, a presença de pessoas que estão lá para torcer… gosto muito também de jogar contra pessoas de diferentes lugares, ver que tem tanta gente boa por aí batendo uma bola. Já fiz muitos amigos por causa de campeonatos, jogando contra mesmo. Eu ouso dizer que a minha paixão pelo futebol vem muito por influência dessa atmosfera criada, e desde criança eu via os jogos na TV e ficava impressionado com os recebimentos das torcidas e entrada dos times em campo.
Atualmente, eu jogo aos finais de semana mais para relaxar, afinal a vida adulta não é fácil! Trabalho no Itaú e praticar o esporte nos meus momentos de lazer é uma válvula de escape muito grande para a minha rotina. Além disso, é sempre uma oportunidade de ver os meus amigos, tomar uma cerveja e bater uma resenha! O Real Madruga é a minha motivação atual para isso.

Você participou da fundação do Real Madruga? Como acabou entrando no time?

Eu não participei diretamente da fundação, mas já era muito amigo de um dos idealizadores, o Caíque. Ele teve a ideia junto com o Rafael, os dois estudaram juntos no Santa Marcelina (colégio), e conheci eles durante o Ensino Médio. Tanto o São Luís quanto o Santa (Marcelina) disputavam os mesmos campeonatos, e a rivalidade foi dando lugar à amizade, sempre foram admiradores de um futebol bem jogado.

Como está sendo o desempenho da equipe ao longo desses anos? Quais os principais campeonatos que jogam?

Está sendo muito positivo, tanto dentro quanto fora das quadras. O nosso primeiro campeonato foi justamente a própria Copa Playball, e começamos na última divisão, eram quatro. Atualmente estamos na primeira, viemos em uma ascensão, porém também já acabamos caindo em um dos anos. Às vezes o desempenho deixa a desejar por conta de desfalques de última hora, por isso sempre tentamos fechar um bom grupo antes das inscrições (nos campeonatos) para termos número o suficiente de jogadores que têm qualidade, mas nunca esquecendo que a amizade está acima disso. A gente se prepara bastante realizando vários amistosos antes e durante os torneios, e isso reforça nosso entrosamento e o espírito de cumplicidade que existe no time. Além da Copa Playball, disputamos outros eventos que o próprio Playball organiza, como campeonatos que duram apenas um fim de semana e são eliminatórios, ou então um muito legal que é no formato de uma Copa do Mundo (por isso tem inscrições limitadas) e acontece durante uma madrugada de sábado para domingo. No momento não pensamos em migrar de lugar, pois é de fácil acesso a todos e gostamos muito do tratamento e organização de lá.

Já que mencionou o futebol de várzea, gostaria que você falasse um pouco da sua visão sobre essa categoria, que ainda respira muito bem em muitas regiões do Brasil.

Bom, na minha opinião o futebol de várzea assume papéis sociais muito importantes. Vários times amadores de São Paulo e outras regiões mantêm vivo um futebol bem tradicional, familiar, e isso se estende à várzea. Eu venho de um bairro de periferia, mais afastado do centro, então sempre teve menos agitação. Então o que acaba acontecendo é que os times realizam um papel que era para ser do poder público, ou seja, organizam festas para as crianças e outros eventos como churrascos e sambas. Tem uma função de integração muito forte. O futebol de várzea é uma forma de identidade com o bairro da onde os times vêm, possui uma “linguagem” própria da nossa região.

Por fim, qual o significado do esporte amador para você?

Eu enxergo o seguinte. O esporte possui várias dimensões, que vão desde o alto nível até uma simples prática na rua ou qualquer outro lugar público, ou até mesmo dentro de casa. Mas o esporte amador é uma das dimensões mais importantes, porque qualquer pessoa pode praticar, não é excludente. Além disso, tem ênfase na saúde, na forma das pessoas socializarem e influencias culturais enormes. É importante que as pessoas tenham consciência disso e mantenham tradições e práticas vivas.