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É hora de despertar o atleta que há em nós

Por Gustavo Longo

O que significa a expressão atleta? Por trás dessa palavra comum a todos os fãs e profissionais do esporte, há conceitos e ideias que regem não apenas o espetáculo esportivo representado nos meios de comunicação, mas a própria vida em sociedade. Ser atleta é uma característica inerente a todo indivíduo que deseja melhorar sua vida.

É interessante ir atrás dos significados das palavras nos dicionários. O Michaelis, por exemplo, traz seis variações distintas para atleta: desde pessoas que dedicavam às lutas na Grécia e Roma Antiga, até mesmo um defensor valoroso de causas, passando por destreza em atividade física e praticante de modalidades esportivas.

Nós, jornalistas, comumente a utilizamos apenas neste último sentido. Atleta e suas variações (competidor, jogador, esportista, etc) são jargões próprios da editoria de esportes. Não chamamos políticos de atletas porque eles duelam no campo das ideias. Tampouco os policiais que correm atrás de bandidos ou professores que se preparam rotineiramente para os desafios das salas de aula.

Não. Para nós, a competição e a preparação são características exclusivas do esporte – e quem pratica esporte é atleta. Mas não deveria ser assim!

Basta olhar para nossas vidas. Mesmo nós, que vivemos uma rotina comum, precisamos nos preparar, planejar e se atualizar no dia a dia em casa ou no trabalho. Todos possuem metas, algumas ousadas, outras nem tanto. Todos competem por melhores condições financeiras e sociais. Há trabalho em equipe, parcerias, amor, torcida, paixão, entre outras situações que os atletas reproduzem em suas modalidades a cada torneio.

Os valores do esporte nada mais são do que os preceitos que preconizam o bem estar e o relacionamento em sociedade. Trata-se do respeito às regras, do companheirismo, do jogo limpo e da aceitação da derrota ou do triunfo em sua trajetória. Atleta, portanto, é quem assimila esse espírito em seu dia a dia.

Kátia Rubio (2017), já dizia que heróis não são apenas quem realizam grandes feitos, “mas também são pessoas que, apesar da fragilidade que as humaniza, percorrem (não sem ajudas) caminhos desconhecidos, muitas vezes dedicando todo uma vida em nome de um bem que beneficiará sua comunidade”.

Nesse sentido, os Jogos Abertos do Interior emergem como um dos poucos eventos que proporcionam isso às pessoas. Sim, trata-se de uma competição esportiva, mas é injusto reduzi-la apenas ao resultado das modalidades. Em sua origem e em toda sua trajetória, se constituiu como a grande celebração, a oportunidade de cidades pequenas também conhecerem as vantagens que as atividades físicas exercem na população.

Quanto mais cidades participam, mais jovens atletas têm a chance de praticar um esporte e, mais importante, mais cidades podem desenvolver políticas públicas que estimulam atividades físicas em seus cidadãos, colocando a pauta esportiva nas escolas, no lazer, no turismo, na saúde, etc. Para este municípios, participar dos Jogos Abertos do Interior é se tornar herói daquela comunidade, levando o espírito esportivo adiante.

Confira áudio da professora Kátia Rubio, da Faculdade de Educação, sobre o assunto:

Quantos bons exemplos não temos quando vemos nossa cidade, por menor que seja, participando de algo grande como os Jogos Abertos do Interior? Saber que há espaço permite que jovens possam sonhar e, com isso, aplicar os valores do esporte em suas vidas. Eles podem nem chegar a participar do evento em si, mas podem se destacar em outras áreas ao incorporar estas estratégias.

É preciso, portanto, despertar o atleta que há em nós. Este espírito é inerente aos seres humanos. Quando criança, jogamos, brincamos e imaginamos. Quando adultos, nós tentamos limitar essa habilidade. Mas é justamente quando a incorporamos em nosso dia a dia que estaremos prontos para os desafios que a contemporaneidade traz a todos – preparados ou não.

Para saber mais

CAILLOIS, Roger. Os jogos e os homens: a máscara e a vertigem. Petrópolis: Vozes, 2017.

RUBIO, Kátia. Esporte e Mito. São Paulo: Képos, 2017.

Gustavo Longo é jornalista especializado em cobertura esportiva e Mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação na ECA/USP