EM DISPUTA

O esporte no campo acadêmico da comunicação

Os meios de comunicação e o esporte são produtos da modernidade, desenvolvendo-se no século XIX e início do século XX. Nesse período, ao mesmo tempo em que são registrados avanços tecnológicos extraordinários no campo da comunicação audiovisual (cinema, fotografia, telefone etc.), desenvolve-se o processo de esportivização das antigas formas de passatempo – principalmente no Reino Unido. Devido ao poderio naval e comercial britânico, a novidade logo foi exportada para suas colônias e para as mais diversas partes do mundo. No entanto, mais do que fenômenos paralelos, o esporte e os meios de comunicação construíram-se, em certo sentido, conjuntamente. Difícil conceber, por exemplo, a popularização do futebol – e seu consequente poder de mobilização coletiva – sem a formação da impressa esportiva, destinada a alcançar grandes audiências (GASTALDO, 2011).

Atualmente, a mídia possui uma enorme influência sobre o próprio processo de produção e organização do esporte. Por exemplo, as partidas de futebol e de outros esportes de massa são agendadas em horários que atendem as necessidades dos canais abertos e fechados de televisão. Inclusive, às vezes, são agendadas considerando mercados consumidores distantes, causando insatisfação por parte dos consumidores locais. Esse foi o caso, por exemplo, do Barcelona, que já chegou a jogar à meia-noite no seu estádio, pois era mais conveniente para o mercado chinês. Até mesmo as regras das práticas esportivas, que antes visavam proporcionar mais isonomia e civilidade, hoje em dia, visam adequar tais práticas às necessidades da indústria midiática – como indicam, por exemplo, as recentes mudanças nas regras de esportes como o vôlei e o futsal.

Diante disso, podemos afirmar que, nos dias de hoje, não é possível compreender o esporte (ao menos o de alto-rendimento) sem compreender as maneiras através das quais ele se relaciona com a lógica midiática. A despeito dessa relação umbilical e de o esporte ser, atualmente, um dos carros-chefes da indústria do entretenimento e de tema central de diversos apelos publicitários, sendo uma das mercadorias mais valiosas do capitalismo, no campo da comunicação, a temática do esporte ainda é um tanto quanto marginal. Na verdade, como observa Édison Gastaldo (2011), o esporte “pertence” muito mais à Educação Física do que a qualquer outra área do conhecimento, incluindo a Comunicação. Interessante observar, por exemplo, que, enquanto os encontros do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) abrigam um grupo de trabalho denominado Mídia e Comunicação, os encontros da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS) jamais abrigaram um grupo de trabalho sobre esporte. Ademais, após a publicação de vários dossiês dedicados ao assunto em meados dos anos 2010, quando o Brasil abrigou alguns megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, as revistas de Comunicação praticamente deixaram de publicar números especiais voltados a ele.

Isso não significa, todavia, que não haja grupos de pesquisa consolidados e com sólida produção sobre as relações entre comunicação e esporte, como é o caso do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), apenas para citar um exemplo. Além de grupos de pesquisa, há uma série de pesquisadores, como Édison Gastaldo, Ronaldo Helal, José Carlos Marques, Tarcyanie Cajueiro Santos, Luciano Maluly e tantos outros que, já há algum tempo, têm se debruçado, de forma sistemática, sobre essas as relações. O próprio site Jornalismo Esportivo ECA/USP é uma iniciativa importantíssima de difusão do conhecimento destinado à produção universitária envolvendo esporte, comunicação e jornalismo esportivo. Que venham outras!

 

Referências

GASTALDO Édison. Comunicação e esporte: explorando encruzilhadas, saltando cercas. Comunicação, Mídia e Consumo. v. 08, n. 02, 2011, p. 39-51.

 

* Felipe Lopes é professor, pesquisador e escritor.