ESPÍRITO ESPORTIVO

Em busca da sustentabilidade e da visibilidade: “Fórmula E” faz sua estreia no Brasil

Na busca por melhorar a sua base de fãs no Brasil a Fórmula E desembarcou em São Paulo e levou cerca de 23 mil pessoas a passarem pelo Sambódromo do Anhembi, na zona norte da cidade, onde ocorreu o E-Prix.

É uma categoria filiada à autoridade máxima do esporte a motor, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), e que pensa no futuro do planeta, mas, também, da sua audiência.

Carros monopostos cem por cento elétricos participam do Campeonato Mundial da ABB Fórmula E, mas a categoria ainda não é tão conhecida por aqui, mesmo tendo dois brasileiros campeões desde o seu início, em 2014. Por isso a primeira prova no país ganhou brutal importância.

Carros monopostos cem por cento elétricos participam do campeonato.

Não basta ver a corrida, tem que vivenciar

A corrida ocorreu no sábado (25/03), mas os fãs puderam assistir aos treinos já no dia anterior. A organização e os patrocinadores montaram um grande espaço para proporcionar a vivência para quem lá estivesse.

Sim, hoje não basta ver o show, tem que se engajar, seja dentro ou fora das redes sociais, com likes, compartilhamentos, vídeos e fotos ou, simplesmente aproveitando a estrutura armada no Anhembi.

Curiosamente, no mesmo dia, ocorreu no autódromo de Interlagos o Lollapalooza 2023, cujo público principal são os jovens, tão cobiçados pela organização da Fórmula E.

Então houve um festival de música em um autódromo e uma corrida em um sambódromo. Interessante!

 

Fãs encontram atrações em diversos espaços.

Quem foi até o sambódromo pode entrar no espaço Allianz Fan Village com atrações que procuravam proporcionar a tal vivência para os aficionados ou para aqueles que tinham ali o seu primeiro contato.

No sábado, dia da prova, a maior parte das arquibancadas oscilava entre cheia e lotada, mas se via, também, muita gente embaixo, curtindo o espaço, comendo ou bebendo, mesmo após a largada da prova. Afinal, naquele momento as filas eram menores.

Entre as atrações havia a Gaming Arena onde o público podia pilotar um simulador de corridas com o template da Fórmula E.

Como o fator “instagramável” deve ser levado em conta, ao lado da vila dos fãs havia um carro de corrida e totens com fotografias de todos os pilotos.

Público chega aos poucos: muita gente queria curtir as experiências na vila do fã.

Ativações de marcas pela sustentabilidade

O tema “sustentabilidade” estava presente de várias formas, a começar pelos ônibus elétricos que a Prefeitura de São Paulo disponibilizou para facilitar a chegada ao Anhembi.

Os coletivos partiam da estação de metrô Portuguesa-Tietê (Linha 1 – Azul) e não cobravam passagem. O mesmo ocorria no retorno, após o evento. Tudo muito tranquilo.

Segundo a Prefeitura, os veículos integram a frota de ônibus elétricos que operam no sistema de transporte público do município.

Na Fan Village o público podia retirar copos de papelão para tomar água em uma estação de hidratação onde enchiam as suas garrafinhas. Afinal, nem todos optavam pela cerveja do patrocinador, a Heineken.

O que muita gente não percebeu é que os copos tinham os fundos compostos por sementes e o aviso: “Em um vaso, plante o copo amassado de cabeça para baixo, regue e espere que vire uma flor ou legume”. Foi uma ação sustentável promovida pela Allianz.

Ônibus elétricos transportam o público do metrô para o Anhembi.

Além da sustentabilidade, categorias do automobilismo têm se preocupado com o empoderamento feminino e, por isso, havia ações do Girls on Track (Garotas na Pista), programa criado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

O programa da FIA tem o objetivo de capacitar, promover a igualdade de gênero e estimular a participação feminina no esporte a motor.

A pilota Bia Figueiredo estava lá como representante do Girls on Track no Brasil e presidente da Comissão Feminina de Automobilismo da confederação brasileira da modalidade.

Bia foi a única pilota brasileira a correr na Fórmula Indy e hoje compete na Copa Truck (caminhões).

Ações com karts realizadas no Anhembi.
Bia Figueiredo representa o Girls on Track no Brasil.

O saldo foi positivo na balança da Fórmula E

Como primeira experiência a Fórmula E no Brasil foi bem-sucedida, mesmo considerando críticas de jornalistas, algumas pertinentes, como as longas filas para comer e beber, na vila dos fãs, ou o contraste de se realizar a prova às margens do Rio Tietê com suas águas poluídas.

De forma geral, categorias automobilísticas como essa buscam demonstrar ser possível o investimento na mobilidade sustentável como forma de reduzir a poluição e as emissões globais de carbono.

Os seus organizadores querem contribuir para o desenvolvimento de uma consciência global sobre as vantagens de se adotar veículos elétricos como forma de energia limpa para desenvolvê-los como estímulo à inovação de tecnologia verde.

O Campeonato Mundial da ABB Fórmula E é signatário da carta da União Europeia 2030. O documento apoia a campanha global para uma economia descarbonizada Race to Zero (Corrida para o Zero, no sentido literal) da Organização das Nações Unidas.

Mesmo considerando os interesses legítimos intimamente ligados ao mercado das empresas envolvidas – buscam o lucro e a visibilidade -, a divulgação dessas bandeiras, por vezes contraditórias, talvez seja o caminho possível para um capitalismo mais sustentável.

 

Conheça mais:

ABB Formula E World Championship. Disponível em: https://www.fiaformulae.com/pt-br. Acesso em: 27 mar. 2023.

Adamo Bazani; Alexandre Pelegi. Vídeo: Ônibus elétricos são destaques na Fórmula E em São Paulo. Diário do Transporte. Disponível em: https://diariodotransporte.com.br/2023/03/25/video-onibus-eletricos-sao-destaques-na-formula-e-em-sao-paulo/. Acesso em: 27 mar. 2023.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.

FIA GIRLS ON TRACK. Disponível em: https://www.fiaformulae.com/en/championship/fia-girls-on-track. Acesso em: 27 mar. 2023.

 

Obs: Todas as fotografias pertencem ao autor deste artigo.

 

MARCELO CARDOSO é jornalista, biógrafo, professor universitário e produtor de podcast. Também pesquisa o jornalismo em suas várias interfaces com o esporte.

Siga nas redes sociais:

Face

Insta

Linkedin

Twitter