COLUNA DO MEIO

21 de abril é Dia de Telê Santana e do Futebol-Arte

Dias atrás, assim foi questionado pelo professor Álvaro Emidio Ferreira:

“Ainda existe a ideia (ou o conceito) de futebol-arte?”

A dura realidade do cotidiano revela um suspiro do meu velho amigo em defesa da cultura. Falar de futebol-arte em tempos de combate à inflação e de descaso com a educação pode soar até desrespeitoso, mas não é; pelo contrário, intriga e pauta o debate sobre a não-violência.

Imagine o seu mundo dentro de um espaço onde predomina a alegria, a criatividade e o talento e, além disso, a individualidade é regida em prol do coletivo. Vai entender essa gente louca que gosta de coisa boa?!

Simples poesias regidas por Telês, Rinnus Michels, Pelés, Maradonas, Mias, Pias etc e tal. Reza a lenda que nem as derrotas da Hungria de Puskas (1954), da Holanda de Cruyff (1974 e 1978) e a do Brasil de Falcão, Sócrates, Zico e Cia.(1982) conseguiram destruir o futebol-arte. Anos depois, Marta ainda está jogando um bolão e, assim como Leonel Messi, nossa heroína merece um grande título.

Não sei se precisamos de técnicos estrangeiros para resgatar o futebol-arte. Tem gente boa por aqui. A seleção masculina da Argentina apostou no jovem treinador Lionel Scaloni e o resultado foi espetacular, com títulos nas Copas América e do Mundo. Jogou para o gasto, mas ganhou e com seu melhor jogador dando show. Craques fazem a diferença e esquemas são para colocar os astros livres para comandar o espetáculo.
Como jogo, a resposta é válida, mas como conceito ainda soa (e alto) a dúvida do professor que vive em Londrina (PR). Resgatar a bandeira em defesa do futebol-arte seria fundamental dentro e fora de campo. O drible é uma técnica, assim como uma lição da vida; da mesma forma a raça (em campo) é uma filosofia que também é sinônimo de garra, de respeito e de igualdade…
Uma vez, o falecido jogador Denner, atacante da Portuguesa de Desportos, disse: ‘Eu acho o drible mais bonito que o gol’. Quando estou desolado, assisto os gols de Denner contra a Internacional de Limeira, o Santos e o São Paulo. Fico ali como um jornalista preso ao passado refletindo sobre a frase do craque.
Futebol-arte é ter a coragem de manter Paulo Henrique Ganso em campo, mas também é vislumbrar um país que defenda a educação e a cultura tendo o esporte como um dos elementos para o combate à violência e à desigualdade social.
Telê Santana da Silva faleceu no dia 21 de abril, assim como Tiradentes e Tancredo Neves. Relembro do mestre me confidenciando ‘uma ideia (ou um conceito) de futebol-arte’ em nosso último encontro em Belo Horizonte para uma entrevista. Parafraseando Telê, o esporte é reflexo da sociedade e os envolvidos (atletas, árbitros, dirigentes, políticos, jornalistas, torcedores etc.) têm a dura missão de colocar em campo diversas bandeiras, tendo ao centro a da paz.
Vamos lá, porque é hora de acompanhar e praticar atividades físicas e esportivas. O amor a si mesmo e ao próximo faz bem ao corpo e à alma dos sonhadores que gostariam apenas de escrever uma história com final feliz.