GINGA ESPORTIVA

Mestre Moa do Katendê sempre vai (re)existir entre nós

É com grande satisfação que inicio essa coluna no Jornalismo Esportivo da ECA/USP, e para isso não poderia deixar de começar falando de uma pessoa especial, que é bastante conhecida no universo da Capoeira e deveria ser sinônimo de resistência no nosso país. E como bem sabemos, o esporte também faz parte da Resistência.

A pessoa em especial que trago hoje é o Romualdo Rosário da Costa, mais conhecido como mestre Moa do Katendê. Além de mestre de Capoeira, era compositor, percussionista, artesão, educador e ativista pelos diretos das pessoas negras e contra o racismo e a intolerância religiosa. Muitos o tinham como um representante a finco das culturas afro-brasileiras, um griô, que não somente socializava memórias e saberes da capoeiragem, mas principalmente a sua “luta”. Sobre a “luta” de Moa, também vista nas rodas de Capoeira, posso comentar que essa teria um sentido mais amplo, pois ela representaria o duro “jogo” da vida, entretanto, com maestria, o mestre conseguia deixá-la fácil.

Mestre Moa se apresentava como sendo aluno do Mestre Bobó, aluno da Mãe Omin Bain e aluno do músico Seu Antônio (pai dele). Ao se apresentar como aluno, demonstrava o que seria uma de suas principais características, a humildade; que só encontramos nos grandes mestres. Pois a vasta verdade, era que ele sempre foi um professor, daqueles que os ensinamentos não serão facilmente esquecidos.

Para aqueles que ainda não conhecem mestre Moa, já perceberam que o descrevo como alguém que já nos deixou. Pois essa é a nossa triste realidade, o admirável mestre Moa teve sua vida ceifada pelo extremismo no dia da eleição de outubro de 2018, foi morto covardemente, simplesmente por mencionar sua opção de voto no Partido dos Trabalhadores (PT). E como nos é apresentado no documentário de Carlos Pronzato, denominado “Mestre Moa do Katendê – a primeira vítima”, o mestre teria sido a “primeira vítima” de uma política que propagaria o ódio e incentivaria a morte, ou como o filósofo camaronês Achille Mbembe (2018) conceituaria por necropolítica. Moa viria ser vítima, justamente, daquilo que sempre lutou contra.

Porém, a voz do mestre Moa nunca será calada e sempre será mais alta que a do extremismo e violência, pois o seu legado, sempre foi buscar uma vida mais digna e igualitária para as pessoas, e a sua “luta” não será encerrada. Assim, como Moa fazia, temos mais o que falar sobre a vida e suas virtudes, do que suas mazelas, isso é (re)existir.

 

Os/As capoeiristas seguem cantando:

“Chora capoeira, capoeira chora… chora capoeira, Mestre Moa foi embora”.

 

Conheça mais:

Mestre Moa do Katendê – A primeira vítima. Documentário, Brasil, 2018, 46 min. Direção, Roteiro e Montagem: Carlos Pronzato. Produção: Paulo Magalhães. Câmera: Carlos Pronzato e Edmilson Barbosa. Edição: Diogo Lula. Direção de Produção: Edmilson Barbosa. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=-iV7RQ_oc5U&t=363s >

 

Referências

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: n-1 edições, 2018b.

 

*Murilo Aranha Guimarães Marcello é Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade de Sorocaba.